Fazia 11 anos que as Universidades Federais brasileiras não aderiam em peso a um movimento de greve e isso se deveu, pelo menos em parte, a confiança que muitos profissionais da área da Educação depositaram na mudança de governo, na entrada de um partido dito “dos trabalhadores” em uma posição de poder. Acreditou-se que a Educação re
ceberia o lugar de destaque que cremos que ela mereça e que, os então opositores petistas, faziam tanta questão de destacar que o governo neoliberal direitista não concedia a ela.
Confiamos, mais promessas foram feitas, confiamos, esperamos. Passaram-se os anos e vimos que as promessas seguiriam assim, como promessas e a educação brasileira melhoraria em números apresentáveis em eventos nacionais e internacionais, mas seguiria relegada às migalhas e ao desleixo. Os profissionais da educação, esses, seriam conclamados a trabalhar por “vocação”, numa alusão clara a não valorização dessa carreira.
O Governo Federal mostrou inequivocamente, desde 2010 que não valoriza os profissionais da educação, sejam eles docentes ou técnicos. O acordo assinado em 2010 que concedeu reles 4% de aumento para os docentes federais foi descumprido. As demais reivindicações de professores e técnicos nem sequer foram discutidas. Elas são as mesmas há anos e quem desejar conhecê-las, basta que olhem as pautas das greves dos últimos 50 anos: estruturação de carreira, definição de uma data base anual pra negociação salarial (coisa que o governo exige do setor privado!), reposição de perdas salariais, incorporação das gratificações ao salário, infraestrutura e condições dignas de trabalho, facilitação e incentivo à qualificação.
Em 2012 veio o maior movimento de greve dos últimos 50 anos. Uma forma de deixarmos claro nosso descontentamento com os rumos (ou a falta deles) dados à Educação no Brasil. Nesse momento esteve nas mãos do governo federal honrar o nome de seu partido e se posicionar ao lado dos trabalhadores, mas o que vimos foi que não éramos apenas desvalorizados, éramos desconsiderados completamente pelo governo. Um governo que recusou-se a conversar e negociar com os representantes sindicais, uso de modo premeditado a mídia para denegrir os profissionais federais da educação e gerar desinformação, seguindo os passos do governo anterior, assinou um acordo unilateral com um sindicato docente que representava 13% das instituições federais e exigiu que os outros 87% dos profissionais aceitasse essa situação. Se ofende a atual presidente ser chamada de “Dil-má”, ofende a toda uma classe profissional sermos chamados de “sangue azul”, como se não trabalhássemos arduamente para fazer por merecer a dita estabilidade que vem vinculada a ser um funcionário federal. Além disso, diferente da classe política, nosso salário não se torna direito adquirido após 8 anos de profissão.
Fomos massacrados. Por meios torpes o governo federal mostrou que pode ignorar a toda uma categoria e seguir com seu discurso falacioso de que a educação é uma prioridade nacional, mascarando números e minando as liberdades individuais e o caráter meritocrático presente no sistema de ensino desde sua criação.
Fomos traídos. Nossa desunião e o comportamento nocivo e vendido de uma parcela dos próprios profissionais minou por dentro o movimento de greve 2012.
Fomos ignorados. Em lugar de ver a população brasileira levantar-se e, juntamente conosco, exigir que a educação no país seja levada a sério, vimos que “pão e circo” realmente são mais importantes. Vimos que nem as pessoas que acreditam que a educação será a chave para sua ascensão social realmente se importam com ela. Vimos que muitos de nossos estudantes também não valorizam a educação ou os profissionais responsáveis por ela. Há sete oceanos de diferença entre querer um diploma e querer educação. Devo esclarecer que essa generalização é indevida e que houve honrosas exceções entre a população. Pessoas que entenderam que essa luta não era por salário meramente, era por reconhecimento do impacto do trabalho dos profissionais de educação para esse país. Era para nunca mais ter que ouvir “Professor, o senhor trabalha ou só dá aulas?”, era pra não perder, cada vez mais, os melhores profissionais para a iniciativa privada ou a não docência.
O acordo unilateral do governo está tramitando, será aprovado e as instituições de ensino federal, exaustas e desconsoladas começam a retirar suas tropas de campo e a amargar uma derrota com gosto de fel. Pior, sabem, com a clareza de um dia de verão, que outros 11 anos não irão se passar sem que novamente haja uma greve das instituições de ensino federal. Sabem que até essa banalização do movimento de greve no setor, tão sintomática da forma como o poder público lida com as questões de educação, fala contra nós na luta diária que travamos para formar profissionais de qualidade e para mostrar ao governo brasileiro que, um dia, terá que parar de tratar a todos nós como estúpidos e acomodados.
Nesse momento os colegas que envolveram esforços e esperanças no movimento de greve tentam buscar consolo em vitórias ilusórias que teriam sido conseguidas com essa luta. Não consigo vê-las. O plano de carreira sofreu alterações que não atendem ao que foi pleiteado, receberemos outra reposição de perdas salariais insuficiente e as Universidades Federais perderam mais um pedacinho de sua autonomia. Os estudantes foram prejudicados, nossas famílias foram e serão prejudicadas, nós fomos prejudicados. Passar por todo o desgaste emocional que enfrentamos, repor aulas e ficar sem férias por dois anos teria valido a pena se pudéssemos voltar para sala de aula com a certeza que algo seria diferente. Passando o exemplo aos nossos profissionais em formação que é possível conseguir vitórias quando a causa é justa e que não é preciso aceitar que o tratem sem respeito. Voltar agora, após quatro meses e ter que explicar que tudo será “como era no princípio, agora e sempre, pelos séculos dos séculos” será doloroso a todos, exceto ao governo.
Não entrei em greve por um aumento no meu contracheque, o fiz pela carreira que escolhi e que acredito merecer respeito. Ainda que tivesse entrado apenas pelo aumento salarial, sairia igualmente derrotada, pois isso também não foi conquistado. Contudo, aprendi muito durante esses quatro meses de paralisação. Lições sofridas sobre como é diferente a postura de governo/oposição, até quando a oposição é, em tese, o governo. Não entendam esse desabafo como uma crítica simplista ao Partido dos Trabalhadores (PT) ou a atribuam a algum tipo de apologia a qualquer partido. Até o momento todos os que se sucederam no governo federal fizeram pela educação praticamente o mesmo, ou seja, nada.
O diferencial do atual governo é a busca por cercear ainda mais os direitos dos trabalhadores, pois nem sob o governo Fernando Henrique Cardoso cogitou-se o tipo de lei contra o movimento grevista que o atual governo fará passar pela goela de todos nós. Se o título deve definir a obra, como exigem os revisores dos artigos que somos cada vez mais pressionados a enviar de forma taylorista às revistas científicas, o atual PT deve mudar a preposição de seu nome e assumir que, pelo menos quando se fala em educação, seu interesse é nulo e sua identidade é Partido CONTRA os trabalhadores.
Confiamos, mais promessas foram feitas, confiamos, esperamos. Passaram-se os anos e vimos que as promessas seguiriam assim, como promessas e a educação brasileira melhoraria em números apresentáveis em eventos nacionais e internacionais, mas seguiria relegada às migalhas e ao desleixo. Os profissionais da educação, esses, seriam conclamados a trabalhar por “vocação”, numa alusão clara a não valorização dessa carreira.
O Governo Federal mostrou inequivocamente, desde 2010 que não valoriza os profissionais da educação, sejam eles docentes ou técnicos. O acordo assinado em 2010 que concedeu reles 4% de aumento para os docentes federais foi descumprido. As demais reivindicações de professores e técnicos nem sequer foram discutidas. Elas são as mesmas há anos e quem desejar conhecê-las, basta que olhem as pautas das greves dos últimos 50 anos: estruturação de carreira, definição de uma data base anual pra negociação salarial (coisa que o governo exige do setor privado!), reposição de perdas salariais, incorporação das gratificações ao salário, infraestrutura e condições dignas de trabalho, facilitação e incentivo à qualificação.
Em 2012 veio o maior movimento de greve dos últimos 50 anos. Uma forma de deixarmos claro nosso descontentamento com os rumos (ou a falta deles) dados à Educação no Brasil. Nesse momento esteve nas mãos do governo federal honrar o nome de seu partido e se posicionar ao lado dos trabalhadores, mas o que vimos foi que não éramos apenas desvalorizados, éramos desconsiderados completamente pelo governo. Um governo que recusou-se a conversar e negociar com os representantes sindicais, uso de modo premeditado a mídia para denegrir os profissionais federais da educação e gerar desinformação, seguindo os passos do governo anterior, assinou um acordo unilateral com um sindicato docente que representava 13% das instituições federais e exigiu que os outros 87% dos profissionais aceitasse essa situação. Se ofende a atual presidente ser chamada de “Dil-má”, ofende a toda uma classe profissional sermos chamados de “sangue azul”, como se não trabalhássemos arduamente para fazer por merecer a dita estabilidade que vem vinculada a ser um funcionário federal. Além disso, diferente da classe política, nosso salário não se torna direito adquirido após 8 anos de profissão.
Fomos massacrados. Por meios torpes o governo federal mostrou que pode ignorar a toda uma categoria e seguir com seu discurso falacioso de que a educação é uma prioridade nacional, mascarando números e minando as liberdades individuais e o caráter meritocrático presente no sistema de ensino desde sua criação.
Fomos traídos. Nossa desunião e o comportamento nocivo e vendido de uma parcela dos próprios profissionais minou por dentro o movimento de greve 2012.
Fomos ignorados. Em lugar de ver a população brasileira levantar-se e, juntamente conosco, exigir que a educação no país seja levada a sério, vimos que “pão e circo” realmente são mais importantes. Vimos que nem as pessoas que acreditam que a educação será a chave para sua ascensão social realmente se importam com ela. Vimos que muitos de nossos estudantes também não valorizam a educação ou os profissionais responsáveis por ela. Há sete oceanos de diferença entre querer um diploma e querer educação. Devo esclarecer que essa generalização é indevida e que houve honrosas exceções entre a população. Pessoas que entenderam que essa luta não era por salário meramente, era por reconhecimento do impacto do trabalho dos profissionais de educação para esse país. Era para nunca mais ter que ouvir “Professor, o senhor trabalha ou só dá aulas?”, era pra não perder, cada vez mais, os melhores profissionais para a iniciativa privada ou a não docência.
O acordo unilateral do governo está tramitando, será aprovado e as instituições de ensino federal, exaustas e desconsoladas começam a retirar suas tropas de campo e a amargar uma derrota com gosto de fel. Pior, sabem, com a clareza de um dia de verão, que outros 11 anos não irão se passar sem que novamente haja uma greve das instituições de ensino federal. Sabem que até essa banalização do movimento de greve no setor, tão sintomática da forma como o poder público lida com as questões de educação, fala contra nós na luta diária que travamos para formar profissionais de qualidade e para mostrar ao governo brasileiro que, um dia, terá que parar de tratar a todos nós como estúpidos e acomodados.
Nesse momento os colegas que envolveram esforços e esperanças no movimento de greve tentam buscar consolo em vitórias ilusórias que teriam sido conseguidas com essa luta. Não consigo vê-las. O plano de carreira sofreu alterações que não atendem ao que foi pleiteado, receberemos outra reposição de perdas salariais insuficiente e as Universidades Federais perderam mais um pedacinho de sua autonomia. Os estudantes foram prejudicados, nossas famílias foram e serão prejudicadas, nós fomos prejudicados. Passar por todo o desgaste emocional que enfrentamos, repor aulas e ficar sem férias por dois anos teria valido a pena se pudéssemos voltar para sala de aula com a certeza que algo seria diferente. Passando o exemplo aos nossos profissionais em formação que é possível conseguir vitórias quando a causa é justa e que não é preciso aceitar que o tratem sem respeito. Voltar agora, após quatro meses e ter que explicar que tudo será “como era no princípio, agora e sempre, pelos séculos dos séculos” será doloroso a todos, exceto ao governo.
Não entrei em greve por um aumento no meu contracheque, o fiz pela carreira que escolhi e que acredito merecer respeito. Ainda que tivesse entrado apenas pelo aumento salarial, sairia igualmente derrotada, pois isso também não foi conquistado. Contudo, aprendi muito durante esses quatro meses de paralisação. Lições sofridas sobre como é diferente a postura de governo/oposição, até quando a oposição é, em tese, o governo. Não entendam esse desabafo como uma crítica simplista ao Partido dos Trabalhadores (PT) ou a atribuam a algum tipo de apologia a qualquer partido. Até o momento todos os que se sucederam no governo federal fizeram pela educação praticamente o mesmo, ou seja, nada.
O diferencial do atual governo é a busca por cercear ainda mais os direitos dos trabalhadores, pois nem sob o governo Fernando Henrique Cardoso cogitou-se o tipo de lei contra o movimento grevista que o atual governo fará passar pela goela de todos nós. Se o título deve definir a obra, como exigem os revisores dos artigos que somos cada vez mais pressionados a enviar de forma taylorista às revistas científicas, o atual PT deve mudar a preposição de seu nome e assumir que, pelo menos quando se fala em educação, seu interesse é nulo e sua identidade é Partido CONTRA os trabalhadores.
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