Não é novidade que há muitos
anos as mulheres buscam a igualdade entre os sexos. Para chegarmos onde
estamos, houve um longo processo para que suas vozes fossem ouvidas e para que seus
direitos de igualdade fossem garantidos por lei. Um desses direitos adquiridos
pela mulher, ainda que tardiamente no Brasil, foi o acesso à Educação, em
especial à Educação Superior. Apesar de terem passado tanto tempo excluídas da
universidade, as mulheres representam uma fatia significativa das matrículas em
cursos superiores. Hoje, as mulheres representam cerca de 51% da população
brasileira (dados do censo de 2010 http://www.brasil.gov.br/sobre/o-brasil/o-brasil-em-numeros-1/demografia/print)
e representam mais de 59% dos concluintes em cursos presenciais nas
universidades do país (dados do censo da educação superior de 2012 http://portal.inep.gov.br/superior-censosuperior-sinopse).
O caminho até aqui foi
longo, como sempre. A economia colonial
brasileira fundada na grande propriedade rural e na mão-de-obra escrava deu
pouca atenção ao ensino formal para os homens e nenhuma para as mulheres. Foi
somente com a chegada da Família Real no Brasil, quando deixamos de ser colônia
para ser Nação, que a diversidade econômica e cultural criou a demanda por
educação. Pela primeira vez, os dirigentes do país manifestaram preocupação com
a educação feminina e as primeiras leis garantem educação primária extensiva às
meninas. No entanto, durante um longo tempo o número de matriculas de mulheres
foi bem reduzido.
No início
do século XIX apareceram as primeiras escolas para mulheres, mas as meninas em
geral não passavam do ensino primário. Existia uma forte especialização de
gênero e para as mulheres havia ênfase no conteúdo moral, dirigido à preparação
para seu papel de mãe e esposa e para as tarefas domésticas. A educação
secundária se restringia ao magistério. A situação era mais dramática na
educação superior, que era exclusivamente masculina. As mulheres foram
excluídas dos primeiros cursos de Medicina (1808), Engenharia (1810) e Direito
surgidos no país.
Para conseguir
o diploma, as brasileiras tinham que ir para o exterior. Maria Augusta Generosa Estrella foi a primeira
mulher a receber o diploma de medicina no Brasil, em 1887 (apesar de ter concluído
seu curso muito antes, ela só pode se formar depois de completar a maioridade).
Ela se formou com louvor na New York Medical College and Hospital for Women, em
Nova York. Pioneiras como ela
encontraram muitas dificuldades para se afirmar profissionalmente e várias
delas estiveram sujeitas ao ridículo (se hoje tem gente que quer descer do
avião porque o piloto é mulher, imagina se alguém ia querer se consultar com
uma mulher em 1887).
Seu exemplo contribuiu para a abertura das faculdades às
jovens do nosso país, o que aconteceu em 1879, com a Reforma Leôncio de
Carvalho, pelo Decreto nº 7247, de 19 de abril.
Houve a abertura das universidades para as mulheres, mas
o ensino continuava especializado de acordo com o gênero. Para o ensino
primário, previa-se o conteúdo:
E para o ensino secundário previa-se, entre outros:
O texto completo do decreto pode ser encontrado em http://www.histedbr.fae.unicamp.br/revista/edicoes/34/doc01a_34.pdf.
(Lendo esse documento você descobre a origem da palavra “cadeira” usada pelos
alunos da UFOP!).
A primeira mulher a se formar no Brasil foi Rita Lobato Velho Lopes, que se formou em 1887, após
defender sua tese sobre a operação cesariana, na Faculdade de Medicina
de Salvador, na Bahia. Ela foi a segunda na América Latina, atrás da chilena Eloísa Diaz Inzunza, que se formou um ano
antes.
Em pesquisa realizada
nos arquivos das antigas escolas Superiores, que vieram a constituir mais tarde
a Universidade de São Paulo, vê-se que a primeira mulher a diplomar-se em Direito,
ali, se formou em 1902. Somente nove anos depois, em 1911, registra-se a
presença de mais uma mulher. Em 1918, as primeiras mulheres diplomam-se em Medicina
no Estado. E a primeira mulher a freqüentar a Escola politécnica de São Paulo
somente vai fazê-lo em 1928.
A participação das
mulheres em cursos tradicionais começa a aumentar somente a partir dos anos 40.
Haviam várias mulheres nos cursos de
Medicina, Direito e Engenharia, mas a porcentagem era ainda muito baixa para
que a universidade pudesse ser vista como um espaço aberto à participação
feminina. O número de mulheres passa a ser mais expressivo com a criação dos “cursos
de mulherzinha”, como o curso de Filosofia, criado em 1942 na Bahia. Tais
cursos eram criados especificamente para mulheres, reafirmavam os estereótipos e
reforçavam a divisão das carreiras por gênero. Estabelecia-se assim, de modo
tácito, que aos homens estariam destinadas às áreas de ‘valor social’ e
possibilidades econômicas e às mulheres aquelas voltadas à preparação para
o ensino secundário e à ‘cultura humanística’.
A participação
feminina passa de 20% em 1956 para 40% em 1971. No entanto, ela não ocorre de
modo uniforme; o aumento da concentração se dá, sobretudo, naquelas carreiras ‘femininas’
definidas culturalmente como mais apropriadas à mulher. As matriculas de mulheres são majoritariamente
nos cursos de Letras, Ciências Humanas e Filosofia.
Hoje ainda existe uma concentração maior da participação feminina
nessas áreas, mas a
inserção das mulheres naquelas
carreiras tradicionalmente ‘masculinas’
é cada vez mais expressiva. Mesmo em proporções reduzidas, essa participação representa
um avanço inclusive porque as que aí ingressam apresentam, freqüentemente,
melhor desempenho que os homens no vestibular (Rá!).
Pessoalmente, acredito
que estamos próximos da igualdade de oportunidade no acesso e permanência de
homens e mulheres no sistema de ensino brasileiro. É claro que ainda temos muito a fazer. Eu não passei por isso, mas
imagino que várias colegas tenham problemas para se afirmar profissionalmente
quando escolhem carreiras como a Engenharia, por exemplo, e principalmente quando
assumem cargos de chefia, coordenando equipes formadas por homens em sua
maioria (é, nem todos os homens aprenderam a respeitar as mulheres no poder). Além de estarem menos presentes do que os homens no mercado de trabalho, as mulheres ocupam espaços diferenciados e estão sobrerrepresentadas nos trabalhos precários”, diz estudo do Ipea. A trajetória feminina rumo ao mercado de trabalho não significou a redivisão das tarefas entre homens e mulheres, mesmo quando se tratam de atividades remuneradas.
Em geral, temos condições de competir de igual para igual com eles, em
todas as áreas. A preferência das mulheres por certos cursos reflete um aspecto
social, e eu não acho que isso queira dizer necessariamente que as coisas
estejam ruins. Queremos igualdade de oportunidades, não de vontades! Homens e
mulheres são muito diferentes, fomos projetados assim. Então é natural que os
interesses sejam diferentes, que as habilidades sejam diferentes e por isso as
escolhas sejam diferentes. Pessoas diferentes precisam de tratamento igualitário,
não igual! Pra mim, o mais importante é que aquelas que se interessem por
cursos dominados pelos homens tenham condições de entrar e se formar em
condições iguais às deles.
Fontes:
Fontes:
- Revolução feminina: as mulheres à frente na educação, artigo de José Eustáquio Diniz Alves (http://www.ecodebate.com.br/2010/07/23/revolucao-feminina-as-mulheres-a-frente-na-educacao-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/)
- MULHERES NO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL, Delcele Mascarenhas Queiroz – Uneb e UFBa.