domingo, 16 de setembro de 2012

A greve das universidades e o partido contra os trabalhadores

O texto abaixo foi escrito pela professora Sabrina Barroso. Ela trabalha na Universidade Federal do Triângulo Mineiro, ama o que faz e está cada dia mais desapontada com os rumos (ou a falta dele) da educação no Brasil.

Fazia 11 anos que as Universidades Federais brasileiras não aderiam em peso a um movimento de greve e isso se deveu, pelo menos em parte, a confiança que muitos profissionais da área da Educação depositaram na mudança de governo, na entrada de um partido dito “dos trabalhadores” em uma posição de poder. Acreditou-se que a Educação re
ceberia o lugar de destaque que cremos que ela mereça e que, os então opositores petistas, faziam tanta questão de destacar que o governo neoliberal direitista não concedia a ela.

Confiamos, mais promessas foram feitas, confiamos, esperamos. Passaram-se os anos e vimos que as promessas seguiriam assim, como promessas e a educação brasileira melhoraria em números apresentáveis em eventos nacionais e internacionais, mas seguiria relegada às migalhas e ao desleixo. Os profissionais da educação, esses, seriam conclamados a trabalhar por “vocação”, numa alusão clara a não valorização dessa carreira.

O Governo Federal mostrou inequivocamente, desde 2010 que não valoriza os profissionais da educação, sejam eles docentes ou técnicos. O acordo assinado em 2010 que concedeu reles 4% de aumento para os docentes federais foi descumprido. As demais reivindicações de professores e técnicos nem sequer foram discutidas. Elas são as mesmas há anos e quem desejar conhecê-las, basta que olhem as pautas das greves dos últimos 50 anos: estruturação de carreira, definição de uma data base anual pra negociação salarial (coisa que o governo exige do setor privado!), reposição de perdas salariais, incorporação das gratificações ao salário, infraestrutura e condições dignas de trabalho, facilitação e incentivo à qualificação.

Em 2012 veio o maior movimento de greve dos últimos 50 anos. Uma forma de deixarmos claro nosso descontentamento com os rumos (ou a falta deles) dados à Educação no Brasil. Nesse momento esteve nas mãos do governo federal honrar o nome de seu partido e se posicionar ao lado dos trabalhadores, mas o que vimos foi que não éramos apenas desvalorizados, éramos desconsiderados completamente pelo governo. Um governo que recusou-se a conversar e negociar com os representantes sindicais, uso de modo premeditado a mídia para denegrir os profissionais federais da educação e gerar desinformação, seguindo os passos do governo anterior, assinou um acordo unilateral com um sindicato docente que representava 13% das instituições federais e exigiu que os outros 87% dos profissionais aceitasse essa situação. Se ofende a atual presidente ser chamada de “Dil-má”, ofende a toda uma classe profissional sermos chamados de “sangue azul”, como se não trabalhássemos arduamente para fazer por merecer a dita estabilidade que vem vinculada a ser um funcionário federal. Além disso, diferente da classe política, nosso salário não se torna direito adquirido após 8 anos de profissão.

Fomos massacrados. Por meios torpes o governo federal mostrou que pode ignorar a toda uma categoria e seguir com seu discurso falacioso de que a educação é uma prioridade nacional, mascarando números e minando as liberdades individuais e o caráter meritocrático presente no sistema de ensino desde sua criação.

Fomos traídos. Nossa desunião e o comportamento nocivo e vendido de uma parcela dos próprios profissionais minou por dentro o movimento de greve 2012.

Fomos ignorados. Em lugar de ver a população brasileira levantar-se e, juntamente conosco, exigir que a educação no país seja levada a sério, vimos que “pão e circo” realmente são mais importantes. Vimos que nem as pessoas que acreditam que a educação será a chave para sua ascensão social realmente se importam com ela. Vimos que muitos de nossos estudantes também não valorizam a educação ou os profissionais responsáveis por ela. Há sete oceanos de diferença entre querer um diploma e querer educação. Devo esclarecer que essa generalização é indevida e que houve honrosas exceções entre a população. Pessoas que entenderam que essa luta não era por salário meramente, era por reconhecimento do impacto do trabalho dos profissionais de educação para esse país. Era para nunca mais ter que ouvir “Professor, o senhor trabalha ou só dá aulas?”, era pra não perder, cada vez mais, os melhores profissionais para a iniciativa privada ou a não docência.

O acordo unilateral do governo está tramitando, será aprovado e as instituições de ensino federal, exaustas e desconsoladas começam a retirar suas tropas de campo e a amargar uma derrota com gosto de fel. Pior, sabem, com a clareza de um dia de verão, que outros 11 anos não irão se passar sem que novamente haja uma greve das instituições de ensino federal. Sabem que até essa banalização do movimento de greve no setor, tão sintomática da forma como o poder público lida com as questões de educação, fala contra nós na luta diária que travamos para formar profissionais de qualidade e para mostrar ao governo brasileiro que, um dia, terá que parar de tratar a todos nós como estúpidos e acomodados.

Nesse momento os colegas que envolveram esforços e esperanças no movimento de greve tentam buscar consolo em vitórias ilusórias que teriam sido conseguidas com essa luta. Não consigo vê-las. O plano de carreira sofreu alterações que não atendem ao que foi pleiteado, receberemos outra reposição de perdas salariais insuficiente e as Universidades Federais perderam mais um pedacinho de sua autonomia. Os estudantes foram prejudicados, nossas famílias foram e serão prejudicadas, nós fomos prejudicados. Passar por todo o desgaste emocional que enfrentamos, repor aulas e ficar sem férias por dois anos teria valido a pena se pudéssemos voltar para sala de aula com a certeza que algo seria diferente. Passando o exemplo aos nossos profissionais em formação que é possível conseguir vitórias quando a causa é justa e que não é preciso aceitar que o tratem sem respeito. Voltar agora, após quatro meses e ter que explicar que tudo será “como era no princípio, agora e sempre, pelos séculos dos séculos” será doloroso a todos, exceto ao governo.

Não entrei em greve por um aumento no meu contracheque, o fiz pela carreira que escolhi e que acredito merecer respeito. Ainda que tivesse entrado apenas pelo aumento salarial, sairia igualmente derrotada, pois isso também não foi conquistado. Contudo, aprendi muito durante esses quatro meses de paralisação. Lições sofridas sobre como é diferente a postura de governo/oposição, até quando a oposição é, em tese, o governo. Não entendam esse desabafo como uma crítica simplista ao Partido dos Trabalhadores (PT) ou a atribuam a algum tipo de apologia a qualquer partido. Até o momento todos os que se sucederam no governo federal fizeram pela educação praticamente o mesmo, ou seja, nada.

O diferencial do atual governo é a busca por cercear ainda mais os direitos dos trabalhadores, pois nem sob o governo Fernando Henrique Cardoso cogitou-se o tipo de lei contra o movimento grevista que o atual governo fará passar pela goela de todos nós. Se o título deve definir a obra, como exigem os revisores dos artigos que somos cada vez mais pressionados a enviar de forma taylorista às revistas científicas, o atual PT deve mudar a preposição de seu nome e assumir que, pelo menos quando se fala em educação, seu interesse é nulo e sua identidade é Partido CONTRA os trabalhadores.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Sobre a Educação e a falta dela no Brasil

Esse texto foi publicado pelo meu amigo Leonardo Souza no blog dele: http://ildiagonale.blogspot.com.br 

Ele foi escrito em 23 de agosto de 2011 e é bem propício pro momento em que vivemos.

O Leo possui curso técnico em eletrônica pelo CEFET-MG (1998), graduação em física pela Universidade Federal de Viçosa (2004), mestrado em Física pela Universidade Federal de Minas Gerais (2005) e doutorado em física pela Universidade Federal de Minas Gerais (2009). Tem experiência na área de Física, com ênfase em Física Clássica e Física Quântica; Mecânica e Campos, atuando principalmente nos seguintes temas: sistemas quânticos abertos. Atualmente é professor com dedicação exclusiva da Universidade Federal de Viçosa, campus Florestal. 


Oi. Jóia?

Então... estamos passando por um tempo complicado. Greve, paraliSações (sim, com S... fiquei sabendo hoje), etc. Mas, onde está a MOBILIZAÇÃO??? Sobre isso que quero escrever.  vou escrever em meu nome, como professor universitário e principalmente como cidadão hipócrita brasileiro.

Nesta quarta grande parte das IFES (instituições federais de ensino) irão fazer um dia de paralização. Motivo? Salário, progressão acadêmica, carreira profissional. Lutas justas, concordo em partes. Mas eu penso que podemos fazer mais e melhor. Se não quiser ler tudo, pule para o final que tem um resumo lá! :-)

Primeiro ponto: A educação brazuca está ruim. Quem dá aula em universidade ou faculdade tá sempre reclamando: "Ah, mas o moleque não sabe somar, não sabe função, não sabe português, não sabe geografia nem história básica." Sim, reclamamos, mas o que fazemos de fato? NADA. Os sindicatos, ou os movimentos professoris (paródia com movimentos estudantis), são inúteis. Brigam pelo salário, dizem que vão cumprir assessoria jurídica e tal. Masqual a ideologia do magistério superior brazuca? Nenhuma. Não há ideologia, não a luta de fato. Brigamos pelo nosso bolso, ou o volume do mesmo, e nada mais.

Como dito acima, reclamamos muito dos estudantes de hoje. Mas, qual a situação da escola fundamental e média no Brasil? Professores extremamente mal remunerados, condições estruturais nulas, estudantes que não tem porque se motivarem. E fica essa briguinha de classes querendo, cada qual, aumentar apenas o volume de seu bolso e o que está contido, monetariamente falando, nele.

Quando eu digo que o salário do magistério superior brasileiro é bom, quase me crucificam. Mas, sinceramente, é bom... compare com o salário do magistério fundamental e médio. OK, se compararmos com a corrupção e os salários dos deputados, vejo que estamos defasados. Se compararmos com o salário de um jogador de futebol de time grande, estamos defasados. Mas e o salário do professor do fundamental, quão defasado está? Qual a estrutura que o professor do ensino básico possui?

Dito isto sobre salários e estrutura do BÁSICO, passarei pro meu segundo e último ponto: a estrutura do ensino SUPERIOR brazuca. O governo Lula implantou o programa REUNI, re reestruturação das IFES. Cada universidade fez o seu projeto REUNI (que eu saiba, todos os projetos foram feitos "nas coxa" e mal formulados), e está tentando implantá-lo da melhor forma possível. Leciono num Campus REUNI e posso afirmar com absoluta convicção que este programa está inteiramente atrasado. Não temos laboratórios de pesquisa E de ensino, não temos calçada nas ruas, não temos biblioteca, não temos SALA DE AULA, estamos escassos de docentes e técnicos administrativos.

Sim, possuímos um corpo humano muito forte e destinado a fazer com que nos tornemos um centro de excelência, mas sem estrutura física BÁSICA é impraticável. O que temos de docentes, técnicos administrativos e discentes é nível "libertadores." Não temos um time fraco aqui. Mas, se não tivermos um centro de treinamento e um gramado razoável pra jogar, fica impossível. Estou há um ano no Campus e até hoje prometem, prometem, prometem a nossa estrutura física e NADA. Estamos chegando no limite de não possuirmos salas de aula para lecionar, o que é deveras lamentável. Tentamos fazer nossas pesquisas, e temos conseguido lentamente (visto a infinita carga burocrática que pegamos, e temos que pegar... alguém tem que fazer o bonde andar), mas em breve chegaremos ao ponto de doar nossas áreas de pesquisa para se tornarem salas de aula (você deve estar pensando que isto é certo, mas a grana é destinada para pesquisa... claro que se for o absolutamente necessário, fazemos).

Universidade brasileira é, em tese, baseada em três princípios básicos, todos seguidos de um adjetivo comum e essencial. Os princípios básicos: ENSINO, PESQUISA e EXTENSÃO. O adjetivo: "QUALIDADE." Temos e devemos retornar à população brazuca estes pilares, e com qualidade!!!

Resumo:

Dos dois pontos sobre a paralisação/mobilização: 1) Devemos apoiar e lutar junto para transformarmos o salário do profissional educador da educação fundamental e média em um valor justo e dar a este profissional condições decentes de trabalho; 2) Devemos apoiar e lutar para consolidar a educação de nível superior de qualidade no Brasil.
A carreira profissional de um docente em qualquer nível depende fortemente destes dois pontos.

Mas porque eu coloquei lá no início que sou hipócrita? Porque nós, sim... eu, VOCÊ, NÓS... NÓS somos hipócritas. Eu nos defino como bebezões chorões... vemos todos os dias os políticos (não todos) em seus esquemas de corrupção e o que fazemos? "Xingamos muito no twitter", ou vamos pra um buteco e reclamamos com nossos copos cheios de cerveja, ou ficamos reclamando no almoço, ou reclamamos em qualquer lugar. Mas não fazemos NADA. Onde está aquela juventude da década de 60/70? O que os pais de hoje, adolescentes e recém adultos daquela época, ensinaram aos seus filhos? A serem comodistas, assim como eles se tornaram? ONDE ESTÁ O BRIO DAS PESSOAS? ONDE ESTÁ A VONTADE DE FAZER MUDAR, DE FAZER ACONTECER, DE TORNAR ESTE UM PAÍS GRANDE?

Sou um hipócrita, admito. Reclamo e não faço nada. Mas quero, e vou mudar minha atitude. Tenho 3 opções: 1) ser comodista; 2) desistir; 3) lutar. Eu escolho a 3a, e você?

Bjo,

Leo

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Ranking das Universidades brasileiras

Foi criado pela Folha de São Paulo em colaboração com um grupo liderado pelo cienciometrista (ciência que estuda a produção científica) da USP Rogério Meneghini um ranking nacional de universidades. Foram listadas  191 universidades, que operam com pesquisa, ensino e extensão, e mais 41 centros universitários ou faculdades, dedicados sobretudo ao ensino. A USP lidera o ranking, a UFMG aparece em segundo, e a UFRJ em terceiro.  



 O ranking mostra novamente o domínio das instituições do Sudeste e Sul: entre as dez primeiras universidades na lista geral, cinco estão no Sudeste; três no Sul, uma no Centro-Oeste e uma no Nordeste. A melhor universidade do Norte, a federal do Pará, aparece na 24ª colocação do ranking. No site http://ruf.folha.uol.com.br você pode ver o ranking completo, saber um pouco mais sobre a metodologia utilizada e criar seu próprio ranking usando seis pesos diferentes para os indicadores de pesquisa, ensino, mercado e inovação. Lá você pode ver também várias matérias sobre as universidades avaliadas. Foram avaliados quatro quesitos: pesquisa acadêmica, qualidade de ensino, avaliação de mercado e inovação.


Até então não havia um ranking nacional e o Brasil dependia de classificações globais ou, no máximo, continentais, que citam poucas instituições brasileiras e desconsideram características nacionais. Uma delas é a avaliação do  QS Quacquarelli Symonds, grupo britânico especializado na avaliação de instituições de ensino superior e publica.

 A partir de 2011, o QS passou a publicar o ranking das melhores universidades da América Latina. Na edição de 2012 (QS University Rankings: Latin America), publicada em junho, foram ranqueadas as 250 melhores universidades de 19 países da América Latina.
Das 250 universidades ranqueadas, 65 são instituições brasileiras.  O ranking de 2012 foi estabelecido avaliando-se as universidades com relação aos seguintes indicadores: reputação acadêmica; reputação junto aos empregadores; número de estudantes; proporção do corpo docente com doutorado, número de trabalhos publicados por professor; citações de artigos e impacto na web.

A USP também lidera o ranking das melhores universidades da América Latina. Entre as dez primeiras colocadas, há 4 do Chile, 3 do Brasil, 2 do México e 1 da Colômbia. As três universidades brasileiras posicionadas entre as 10 melhores são: USP(1ª), UNICAMP (3ª) e UFRJ (8ª). A UFOP ocupa a 104ª posição entre as universidades da América Latina, a 30ª posição entre as instituições brasileiras e a 6ª posição entre as instituições mineiras. Além da UFOP, foram ranqueadas as seguintes universidades federais localizadas em Minas Gerais: UFMG (13ª), UFV (76ª), UFU (78ª); UFLA (85ª), UFJF (118ª), UFTM (138ª), UNIFAL (139ª), UNIFEI (140ª) e UFSJ (entre a 171ª e 180ª posição). De Minas Gerais, há ainda a PUC na 99ª posição. 


Mais informações sobre o ranking da QS podem ser encontradas em http://www.topuniversities.com/university-rankings/latin-american-university-rankings/2012 .